"Risco pandémico." No futuro vão existir cada vez mais mosquitos" e a culpa é das alterações climáticas.

 


Em Portugal, os mosquitos são mais frequentes no verão devido às altas temperaturas. Por causa das mudanças climáticas, é esperado que, no futuro, existam "novas espécies de mosquitos" na Europa do Sul e Portugal não será exceção. À TSF, Miguel Castanho, do Instituto de Medicina Molecular, admite que "não podemos excluir que a Europa venha a ser afetada" por pandemias associadas às doenças transmitidas pelos mosquitos.

Dengue, zika ou chicungunha. Estas são algumas das doenças que podem ser transmitidas pelas espécies de mosquitos mais perigosas, como os "Aedes" ou os "Culex", que transportam parasitas ou vírus. Em declarações à TSF no Dia Mundial do Mosquito, que se assinala este sábado, o professor Miguel Castanho, do Instituto de Medicina Molecular, explica que o fator chave para o aumento destas doenças é a multiplicação dos mosquitos, algo que, em Portugal, acontece especialmente na época do calor e das altas temperaturas.

"Temos que pensar que a nossa meteorologia está a mudar e as áreas subtropicais estão a avançar para norte. Com elas, vêm novas espécies animais, incluindo novas espécies de mosquitos e estes mosquitos que transmitem febre-amarela, dengue ou zika estão, de facto, a avançar sobre a Europa do Sul, no geral (...) O que nos tem protegido do avanço destas espécies de mosquitos é o frio do inverno. Com as alterações climáticas e o aquecimento global, estes mosquitos vêm colonizando toda a Europa do Sul, incluindo, tendencialmente, Portugal", afirma o especialista, sublinhando que, no nosso país, apesar de já terem sido detetados "esporadicamente", ainda não há muitos destes mosquitos.

"A região da Madeira é a única que tem uma densidade razoável de mosquitos deste tipo. Portugal continental e os Açores ainda não têm uma grande densidade destes mosquitos, mas espera-se que, no futuro, existam cada vez mais", salienta.

Em Portugal, é normal que eles apareçam na estação quente, visto que a "nossa meteorologia é propícia aos mosquitos no verão". "Mas não nos podemos esquecer que, por exemplo, em algumas regiões do Brasil, os mosquitos aparecem mais nas épocas das chuvas e multiplicam-se mais por causa das chuvas e de águas paradas. No caso de viajarmos, devemos atender às condições do local para onde vamos e devemos estar atentos ao aparecimento de algum surto ou doenças, como dengue, zika ou chicungunha", alerta.

Novas pandemias? Especialista admite "risco"

Miguel Castanho admite que as doenças transmitidas pelos mosquitos podem originar novas pandemias, principalmente no que toca à dengue.

"Na Ásia, na América do Sul, em África, já existiram fases em que dengue foi terrível, ao nível pandémico. Não podemos excluir que isso venha a acontecer de novo e que a Europa venha também a ser afetada. Existe um risco pandémico", sustenta.

No que respeita ao zika, "têm surgido surtos e epidemias em algumas zonas do globo que nunca se tornaram exatamente pandemias, porque não se expandiram grandemente por territórios muito extensos". No entanto, o especialista chama a atenção para o facto de este vírus ser "terrível, sobretudo, nas mulheres grávidas, porque afeta o desenvolvimento neurológico dos fetos".

Sangue 'doce' significa mais picadas: verdade ou mito?

É comum dizer-se que há maior probabilidade de se ser picado se tivermos o sangue 'doce', mas o professor diz que não é bem assim. Logo, trata-se de "um mito". A verdade é que há pessoas que podem ser mais reativas às picadas, mas o cheiro é outro critério importante.

"Enquanto não faz a picada, o mosquito não tem noção se o sangue é amargo ou doce. A questão da seleção da pessoa que vai ser picada não tem a ver com características do sangue em si. Debate-se muito se os mosquitos picam as pessoas indiscriminadamente, mas algumas reagem mais às picadas do que outras, dando a ilusão que essas pessoas são mais atraentes para os mosquitos ou se, por outro lado, os mosquitos têm preferência por algumas pessoas", detalha Miguel Castanho.

"Estudos recentes apontam para que algumas das moléculas exaladas pelas pessoas sejam detetadas pelos mosquitos, ativando os sensores do odor dos mosquitos. Eles guiam-se pelo cheiro e encontram as pessoas que vão picar dessa forma. Curiosamente, algumas dessas moléculas são moléculas que têm um odor de tipo cítrico e que nós usamos em alguns perfumes", esclarece.

O que fazer em caso de picada?

Em caso de picada, é recomendado que aguarde pelos sintomas de um "eventual desenvolvimento da doença", porque "pela picada do mosquito em si não se consegue distinguir". Contudo, se for picado, deve evitar coçar para não correr o risco de abrir uma ferida, sendo aconselhado o uso de pomadas anti-inflamatórias. Se for para uma área de risco, Miguel Castanho assinala que não é necessário ficar ansioso, porque as probabilidades de desenvolver doença grave "são muito baixas".

"Nem todos os mosquitos perigosos estão infetados com vírus. Eles podem transportar os vírus, mas nem todos têm vírus. Não quer dizer que aquela picada, mesmo sendo de um mosquito perigoso, tenha que corresponder a uma infeção. Se formos para uma área de risco, se formos picados não devemos entrar em ansiedade, não é caso para isso", aconselha, apelando ainda ao uso de repelentes de insetos, que "inibem os sensores de cheiros e dos odores dos mosquitos".

"Investir, planear e antecipar perigo" para "mitigar pandemias do futuro"

Ainda não existem opções farmacológicas para o combate à maior parte destes vírus e doenças transmitidas pelos mosquitos e, por isso, a prioridade deve ser "investir, planear e antecipar o perigo", desenvolvendo "medicamentos específicos" para serem usados na prevenção e no tratamento. Um trabalho que já está a ser feito pelo Instituto de Medicina Molecular.

"Nós tentamos associar-nos ao esforço de antecipar a mitigação das pandemias do futuro e, portanto, aquilo que desenvolvemos é este trabalho no sentido de desenvolver medicamentos que venham a ser usados na prevenção ou no tratamento de vários destes vírus, nomeadamente, os transportados pelos mosquitos do tipo 'aedes', onde se inclui a dengue, zika e chicungunha. Estamos particularmente preocupados com o zika, primeiro, e dengue, depois. Como o zika é aquele vírus terrível, sobretudo, para as mulheres grávidas, temos que criar um medicamento que não só seja eficaz a destruir o vírus, como consiga chegar ao feto", clarifica.

Aliando-se à Espanha, à Alemanha e ao Brasil, o Instituto de Medicina Molecular já "detetou algumas moléculas que conseguem fazer a inativação do vírus e passar da mãe para o feto". "Mais do que isso, conseguem chegar ao cérebro da pessoa infetada e protegê-lo. Começámos agora testes em animais, porque uma coisa é fazer um teste muito simples, expondo o vírus à nossa molécula no laboratório, e outra é conseguir, no animal, que a molécula chegue ao sítio certo e, no ambiente do tecido vivo, conseguir inativar o vírus sem fazer mal às células que estão à volta. ​​​​​​Até agora, já demonstrámos que as moléculas são capazes de proteger a vida dos animais e a sua condição, mantê-los mais saudáveis e protegê-los contra as ações do vírus", revela.

TSF Rádio Noticias

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